quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O QUINTO MANDAMENTO



"O sábio fechou o calhamaço da Bíblia e repô-la no seu canto. "Adiantou-me muito, diz ele. Tu não matarás: este artigo do Decálogo é excelente; está maravilhosamente comentado pelos massacres de infiéis que Deus não cessa de ordenar. Este livro é o maior sucesso de livraria que já se viu; e isso prova que os homens não são difíceis."

"Propos de Littérature" (Alain)


Mas Alain diz que a contradição é do próprio homem, porque os melhores, às vezes, têm de matar, e que Deus tomou sobre si essa contradição. Convida-nos, por isso, a encontrarmos melhor.

Não há dúvida sobre o sentido do mandamento, que não admite excepções.

O que quer dizer então o endosso a Deus das infracções inevitáveis? Não vai isto ao encontro da tese duma dualidade de pesos e de medidas e não é a confirmação da ambiguidade das parábolas?

No fundo, proíbe, como diz Alain, ao tórax (a cólera) e ao ventre (os apetites) de que falava Platão, para deixar a decisão ao juiz (a cabeça).

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