domingo, 6 de janeiro de 2008

FAZER E DESFAZER


Wolfgang Amadeus Mozart (1756/1791)

"Um homem razoável nunca está em condições de dormir; encontrará sempre alguma pequena coisa que não está feita, alguma dificuldade não resolvida, alguma precaução que não foi tomada; só que ele recusa interessar-se mais tempo por essas coisas, o que é cessar de se interessar por si. Há grandeza de alma no sono, mas sem nada de tenso. Admira-se o herói, que dorme quando ele quer, e mesmo justamente quando as coisas quereriam impedi-lo de dormir."

"Propos de Littérature" (Alain)


Isto vem a propósito da aplicação. É que a inatenção é tão difícil como a atenção. E Alain cita Valéry: "O difícil não é fazer, mas desfazer."

A aplicação é o esforço, a atenção é a testa franzida. Pois bem, isso deixa uma marca no estilo. Como na esgrima, o pulso deve sentir-se solto. E mesmo no trabalho manual, aprende-se a "nem sempre fazer força."

O enigma do poeta compreende-se assim. Fazer, é segundo a primeira ideia, quase com violência, ou por tentativas, pesadamente, como um albatroz em terra. A graça é o segundo momento, o de desfazer.

Dizem-me que Mozart tinha a partitura acabada na cabeça antes de começar a escrever. Mas também não consigo imaginar um vinco naquele rosto.

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