Laurel and Hardy
"Ele emitia primeiro a nova opinião, geralmente sob uma forma incompleta, enigmática, que forçava Mme de Guermantes, a qual não esperava outra coisa, a explicar ao visitante aquilo que o marido queria dizer, e ao mesmo tempo a rectificá-lo. Sem dúvida que essas opiniões novas não continham mais verdade do que as antigas, geralmente menos. Mas, justamente, o que elas tinham de arbitrário, de falso, dava-lhes qualquer coisa de teatral que as tornava emocionantes ao serem comunicadas."
"Esquisse du Côté de Guermantes" (Marcel Proust)
Como dois "compères" na revista, ou algumas duplas do cinema, como a de Stan Laurel e Oliver Hardy, que sabem tirar em cena o melhor partido das suas diferenças, servindo um ao outro de contraponto, o duque, mais tosco, fornecia à sua brilhante comparsa as deixas que lhe permitiam dar largas a um espírito malicioso. Malicioso, porque, como diz Proust, a duquesa "vivia desses deveres e dessas emoções artificiais", único antídoto para a nulidade e o aborrecimento da vida mundana.
Esta lei que força o entediado a sempre procurar, "sobre uma pessoa, o contrapé da opinião até ali admitida", para chocar o seu auditor e alimentar o culto da sua própria originalidade, dissolveria qualquer sociedade se não estivesse presente na mente de todos a dualidade entre a vida e o teatro.
O bom senso exige-nos, em múltiplas circunstâncias, as aptidões do tradutor.
E é o que falta quando deixamos de perceber que os chamados meios de comunicação são tão artificiais como o salão da duquesa de Guermantes.
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