terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O ESPERANTO ATEÍSTA



Dawkins parece acreditar que o mundo estaria muito melhor sem a religião, à qual associa os principais conflitos do planeta.

O poster da Fundação Richard Dawkins sugere até, com aquele clarão por detrás das Torres Gémeas, que o 11 de Setembro foi uma espécie de radiação maléfica do fenómeno religioso.

É certo que as piores guerras sempre foram as guerras de religião porque implicam geralmente a guerra civil. Mas o século XX mostrou-nos que há pior ainda do que uma guerra de religião.

Não adianta, porém, lamentar que algumas guerras poderiam ter sido evitadas, caso a religião não as assanhasse. A religião está provavelmente inscrita no código genético. Mas esta perspectiva não afasta a possibilidade de a virmos a deixar para trás, como uma parte atrofiada do esqueleto. Será assim?

Dawkins confunde, talvez, a religião com o fanatismo e com a intolerância e os preconceitos mais inamovíveis.

Mas todos sabemos como o adepto dum clube desportivo pode ser fanático e intolerante. E encontramos essa atitude, essa neurose (definição da religião para alguns psicólogos) nas mais diversas situações: no amor, na família, nos partidos, etc.

Quanto aos preconceitos e à intolerância, suspeito que Dawkins tenha sido contaminado pelo "politicamente correcto". Todos nós precisamos de preconceitos e, em certas coisas, de intolerância. O homem religioso pode abraçar o pensamento crítico como qualquer outro, e a diferença está em encontrar o ponto sensível para sentir o dogmático no ateu.

Enfim, o mundo sem religião parece-me uma ideia demasiado lógica, como a ideia do esperanto. Não somos feita dessa argamassa.

Teríamos outro tipo de conflitos, mas não necessariamente menos destrutivos.

Sobretudo, faltaria o elo do homem comum ao cosmos, que nas elites pode ser suprido por qualquer estética do tipo da "religião de Einstein". A grande maioria, porém, só poderia alimentar-se do medíocre ersatz da indústria cultural.

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