segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O SONO DOS JUSTOS


Luís XVI e o filho na prisão do Templo

"O que mais impressionava os guardas nacionais e lhes fazia crer que o rei podia muito bem estar inocente era a profundeza e a calma do seu sono. Todos os dias depois do jantar, adormecia duas horas, no meio da família, entre os que entravam e saíam. Era o sono dum homem em perfeito estado de consciência, que se sente justo e de bem com Deus."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


A expressão "o sono dos justos" quer dizer alguma coisa e é mais forte do que a doutrina para a imaginação.

Da noite para o dia, o tetraneto do Rei-Sol viu-se arrastado para as trevas exteriores, separado do mundo e da natureza (Saint-Just). Os municipais vão buscar à prisão do Templo um tal Luís Capeto.

A acusação era tão desproporcionada em relação a qualquer ideia de responsabilidade por parte do rei que não é de admirar que este, na sua devoção, se tivesse inspirado em Job, também ele perseguido sem motivo pelo seu Deus.

O confessor que lhe aplacava as dúvidas e, sobretudo, uma natureza destemperada pelo excesso de comida ("quatro entradas, dois assados, cada um de três peças, quatro entremezes, três compotas, três pratos de fruta, um pequeno garrafão de Bordéus e outro de Malvesia ou de Madeira") e a falta de exercício fizeram muito melhor do que Morfeu para lhe dar o sono dos bem-aventurados.

Mas esse espectáculo, a própria mediocridade do homem, rodeado pela mulher e os filhos, a quem tentava ensinar a geografia, era um verdadeiro tiro no pé para os Convencionais.

O processo arrastava-se, no meio de dúvidas angustiantes, e foi a mola dos partidos, envolvidos numa luta de morte, que decidiu.

Como se ao entrarem em certos esquemas, por actos e palavras, os homens declinassem uma responsabilidade demasiado pesada para os seus ombros.

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