terça-feira, 15 de janeiro de 2008

ABANAR O CÃO



"O imperativo categórico e central de que fazer dinheiro é não só a mais tradicional e socialmente mais útil das maneiras que um homem tem de gastar a sua vida terrena - um imperativo para o qual, certamente, existe um precedente no etos da Europa mercantil e pré-capitalista - é uma coisa. A convicção eloquente de que fazer dinheiro é também a coisa mais interessante que se pode fazer, é inteiramente outra."

"Paixão intacta" (George Steiner)


No filme "Manobras na Casa Branca" ("Wag the dog"-1997, Barry Levinson), o produtor (Dustin Hoffman), depois de montar o "show" da sua vida, para desviar a atenção dos eleitores dum outro caso de assédio sexual no "Salão Oval", metendo uma guerra fictícia com a Albânia e o resgate dum pretenso soldado (na verdade, um presidiário psicótico), não quer honras, cargos em embaixadas, ou dinheiro, mas só crédito. Quer que o seu nome apareça no genérico deste "show" político-televisivo.

Ora, a política, em grande parte, pode ser espectáculo, mas não deixa de ser política, jogos de poder e fachada institucional. Sobretudo, não se deve levar as pessoas a pensarem que o sistema político se tornou autónomo a ponto de se poder encenar com total independência dos factos e que nada tem já a ver com a democracia.

Por isso, a produção teve o seu epílogo esperado com o ataque cardíaco fulminante do seu produtor, que se esquecera de que é o cão que abana a cauda e não a cauda que abana o cão.

Por onde se vê que não é o dinheiro em si que é interessante, mas, como diz Steiner noutro passo, o "sucesso monetário e material".

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