Heráclito, segundo Rafael
"O tio não põe aí nenhuma hipocrisia, iludido que está pela faculdade que têm os homens de crer em cada nova circunstância que se trata de "outra coisa", faculdade que lhes permite adoptar erros artísticos, políticos, etc., sem se aperceberem que são os mesmos que eles tomaram por verdades, há dez anos, a propósito duma outra escola de pintura que condenavam, dum outro caso político que acreditavam merecer o seu ódio, donde eles vêm, e que desposam sem os reconhecer sob o novo disfarce."
"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)
O barão censura no sobrinho, Robert de Saint-Loup, os seus próprios defeitos.
Pois, como no rio de Heráclito, as águas nunca são as mesmas. As próprias opiniões fluem, sendo substituídas, incessantemente, por outras que têm mais a ver com connosco, tal como somos agora, do que com a sua etiqueta na nossa memória.
E, tal como podemos sempre fugir a um juízo de analogia que nos compromete, dizendo que o caso é diferente, também os nossos antigos "cavalos de batalha" nos podem parecer pacíficas montadas, se a idade e o temperamento ajudarem.
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