"Pode argumentar-se que, não obstante as suas próprias palavras e as dos seus acólitos, Hitler não era, na realidade, religioso, limitando-se, isso sim, a explorar cinicamente a religiosidade daqueles a quem se dirigia. Talvez concordasse com Napoleão, para quem "a religião é excelente para manter sossegada a gente comum", e com Séneca, que afirmou: "A religião é vista pela gente comum como verdadeira, pelos sábios como falsa e pelos governantes como útil."
"A Desilusão de Deus" (Richard Dawkins)
Dawkins diz que ninguém se pode inspirar na Bíblia para fundamentar a sua moral, visto que seria preciso para isso um critério, que a religião não dá, para separar os bons exemplos, a sabedoria universal, dos atrozes, que abundam no Velho Testamento, os quais têm de ser reinterpretados como símbolos ou alegorias para não ofenderem a sensibilidade média.
Uma dessas atrocidades é a ideia do judeu deicida, tanto mais que a figura de Judas, por exemplo, pode legitimamente ser vista como um caso da mais necessária obediência, apesar de se ter tornado a própria maldição, por antonomásia.
É difícil não ter essa maldição presente, quando pensamos na grande obsessão de Hitler. De qualquer modo, já não estamos no domínio da religião, mas no da patologia.
E devemos, talvez, procurar a fronteira nos movimentos do colectivo que pretendem ser formas de pensar.
Sem dúvida, somos todos vulneráveis quando um fanático pode produzir uma espécie de curto-circuito naquilo que faz de nós indivíduos pensantes.
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