terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

AS IDEIAS E A DEMOCRACIA



"Por um lado, o que impeliu Platão a escrever o Fedro foi a clareza cada vez maior com que via a ligação entre os problemas teóricos aparentemente difíceis e abstractos da sua posterior teoria das ideias e as mais simples exigências que se colocavam à capacidade de falar e de escrever, que, naquela época, constituíam um tema muito procurado e debatido."

"Paideia" (Werner Jaeger)


Haverá um modelo em pirâmide das ideias, que são mais abstractas quando mais perto do vértice e que se tornam cada vez menos reconhecíveis à medida que se aproximam da base, mas nem por isso menos redutíveis a uma origem "oligárquica", seja ela a dos especialistas nos vários ramos da ciência ou daqueles que se preocupam com as ideias gerais e os princípios filosóficos?

Esse nexo é fundamental no pensamento platónico, com a sua distinção entre a opinião e a verdade.

Mas as ideias do filósofo raramente têm influência directa numa cultura e elas só se estabelecem ao longo do tempo, através da mediação das elites intelectuais.

E hoje temos que confrontar o preconceito anti-democrático de Platão com a questão de saber se essa é a origem de todas as ideias e se aquilo que a filosofia considera a ideia não é apenas uma pequena parte do que é transmitido de geração em geração, de forma inconsciente, decerto, mas que não é menos responsável pelo êxito da nossa adaptação ao meio ambiente e, enfim, pelo próprio progresso da civilização.

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