sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A ARTE DO COLÉRICO


Robert de Montesquiou caricaturado por Georges Goursat


"Talvez, desejoso de estender a fateixa mais tarde a um primo tão agradável, quisesse assenhorear-se das vantagens duma agressão prévia, como os soberanos que, antes de se comprometerem numa acção diplomática, a apoiam com uma acção militar."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


A violência deste lacónico "Bonsoir, monsieur." por parte do barão de Charlus recebe várias interpretações do narrador.

A uma personagem que moral e sexualmente acaba de fazer uma translação de 180 º, Proust acrescenta outros e prodigiosos disfarces.

Julga-se que o conde de Montesquiou, dandy e literato, tenha inspirado esta figura tão complexa e sabemos que a cólera fingida foi muitas vezes utilizada por alguns homens célebres.

No entanto, penso que o primeiro movimento, espontâneo, não pode de todo ser suprido pela vontade. O que se passa é que certas pessoas, ao sentirem um princípio de humor, lhe sopram o fole, manobrando-o depois à vontade.

Como era muito inteligente e capaz de decisões rápidas, o barão pode ter visto logo o partido que Sodoma podia tirar dum primeiro acto de guerra.

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