A imagem da coorte dos 500 (os trabalhadores que ganham 500 euro por mês nos call centers) sob o "chicote" dum Kapo que, dum estrado mais elevado, controla ao minuto o tempo das chamadas e a eficiência dos operadores, parece saída dum cenário futurista, como o de "Alphaville", em que as máquinas já dominaram definitivamente os homens.
É esta coorte o inglório destino de boa parte dos licenciados deste país, o que é a medida da qualidade do nosso ensino ou da do desperdício do saber.
Só quem se lembra de quando o atendimento pessoal era um direito de todos e não uma prerrogativa dos grandes clientes pode julgar o muro dos call centers. Este é um dos aspectos em que a democracia regrediu em nome duma eficiência abstracta.
Simone Weil dizia que os engenheiros deviam preocupar-se em desenhar máquinas que respeitassem a forma humana, em vez de se limitarem a responder aos problemas técnicos propostos por empresários mal formados. E acrescentava que esse progresso seria muito mais sensível do que o obtido pela maior parte das reivindicações operárias.
É óbvio que a ideia destes parques dos 500 responde só à questão técnica e que, noutras paragens, como na Índia, eles podem até constituir um verdadeiro progresso.
Mas ainda que a globalização tivesse só consequências como esta não poderíamos impedi-la.
Só que as doutrinas talvez nos estejam a impedir de criar um sistema imunitário que nos evite dar passos atrás em termos de civilização.
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