Max Scheller (1874/1928)
"A ideia da revelação, quaisquer que sejam o seu sentido e o seu alcance nas religiões positivas, supõe, antes de tudo, que certas verdades e certos valores objectivos podem ser comunicados aos homens (privados do órgão que lhes permita apreendê-los directamente) pelos seres duma ciência ou duma sensibilidade mais elevada. Esses deverão "crer" naquilo que os outros "vêem". Neste sentido muito purificado, a noção de revelação está na base de toda a teoria do conhecimento e de toda a cultura verdadeiramente humanas. Noção que se impõe inelutavelmente se a repartição social do conhecimento verdadeiro e dos valores deve depender duma competência fundada no conhecimento concreto, não duma simples sanção do consentimento universal."
"L'Homme du Ressentiment" (Max Scheller)
Este platonismo puro e duro parece o mais anti-moderno possível, mas embora o autor creia na revelação religiosa e na superioridade dos valores fundados na visão de criaturas excepcionais, "duma ciência ou duma sensibilidade mais elevada" pode ter tudo a ver com a situação actual.
De facto, se os valores democráticos (para abreviar) se apoiam no conhecimento laico ou religioso a todos acessível e no consenso de homens nem sempre dotados do "órgão de apreensão directa", por outro lado (e é cada vez mais assim, à medida que a ciência se afasta do senso-comum), todos nós cremos no que a minoria de especialistas nas várias áreas "vêem".
A revelação funciona, como nunca funcionou, na sociedade do conhecimento.
O ressentimento de que fala Scheller, por alguma razão, não é sentido neste caso de abdicação do princípio igualitário.
E mais interessante ainda é que no domínio da Física mais avançada, por exemplo, a nossa crença não se apoie já no que os happy few vêem, mas naquilo que eles crêem.
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