quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

NENHUM RASTO


Bashô com dois lavradores


"Em breve se morre
e da morte não existe qualquer rasto:
breve o som de um gafanhoto.

Morre-se subitamente:
nos campos verdes
as pragas dos gafanhotos."

"Vozes de Verão" (Bashô -1644/1694)


Podia ser uma outra versão do Eclesiastes: Tudo é vaidade! Mesmo as pragas acabam por não deixar rasto.

É como se nem tivéssemos chegado a existir.

Revendo um programa antigo ("Cosmos" de Carl Sagan), o entusiasmo do homem que diante duma janela para o espaço nos vai nomeando as constelações e as galáxias tem qualquer coisa de religioso. É como se recitasse as infinitas metamorfoses duma divindade.

Nós, afinal, seríamos o universo consciente dele mesmo.

Mas morremos subitamente como diz o haiku.

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