quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A VINGANÇA DE HEFESTOS


"There will be blood"
(2007-Paul Thomas Anderson)


Daniel é um homem que julga o seu semelhante com a ponta da picareta ou da broca de percussão.

O pequeno órfão que o acompanha não é uma fraqueza: na hora da ruptura, vinte anos mais tarde, dirá que se serviu da sua inocência para convencer os que lhe vendiam as terras.

Até o vagabundo que se fez passar por seu irmão e que talvez já fosse um amigo foi sacrificado a um despotismo com laivos de zelo religioso.

É o confronto com o fanático pastor da Igreja da Terceira Revelação, que o humilha numa cerimónia de baptismo, necessária para o seu oleoduto atravessar as terras de um crente, e o seu assassinato a golpes de pino de bowling que melhor revelam a loucura da personagem.

Haverá sangue é, de facto, um juramento de vingança, cuja eficácia se pode medir em termos industriais, na energia com que arranca as lascas de pedra faiscantes da mina ou no demonismo do seu triunfo sobre o poço de petróleo incendiado.

É como se toda uma época do capitalismo se encarnasse numa paixão que "se serve fria", que faz justiça pelas suas mãos e submete a religião à mecânica dum ajuste de contas.

No papel deste Hefestos, aleijado e sem amor, Daniel Day-Lewis é magnífico.

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