quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

LICENÇA PARA INOVAR


"Alphaville" (1965-Jean-Luc Godard)


"Não podemos tentar aqui contar a longa história de todas as boas causas que acabaram por ser reconhecidas, somente depois de pioneiros solitários terem devotado as suas vidas e fortunas a erguer a consciência pública, das suas longas campanhas até que, por fim, ganharam o apoio para a abolição da escravatura, a reforma penal e das prisões, a prevenção da crueldade em relação às crianças e aos animais, ou um tratamento mais humano dos loucos. Todas estas foram por muito tempo as esperanças de apenas alguns idealistas que lutaram para mudar a opinião da esmagadora maioria em relação a certas práticas aceites."

"The Constitution of Liberty" (Friedrich Hayek)


As boas causas, defendidas ao princípio por poucos, estão decerto na origem dos grandes avanços da civilização e podem interpretar-se, na perspectiva evolucionista, como uma estratégia bem sucedida de adaptação ao meio. Razão por que a liberdade está longe de ter apenas consequências políticas.

Mas deve-se também observar que na Era da Técnica prevalece um outro tipo de progresso, que não está ligado de maneira nenhuma às "boas causas". Os motivos que levam a determinada descoberta com implicações profundas na vida das pessoas, enriquecendo-as, aliviando-as de certos esforços, proporcionando-lhes maior mobilidade e mais capacidade de comunicação, esses motivos podem ser afastados, o mais possível, de tais consequências.

Há, seguramente, muito de não previsto e de indesejado nos efeitos da tecnologia.

Também face a estes desenvolvimentos, em boa parte automáticos e inconscientes, podemos imaginar uma situação em que a liberdade possa ser severamente restringida, sem que a produção da novidade tecnológica se ressinta.

Aquilo a que há alguns anos atrás se chamou de tecnocracia caracteriza-se por uma grande concentração dos meios ao dispor duma comunidade tecno-científica, compatível com uma total licença de experimentação e de troca de ideias dentro de cada especialidade, sem que isto implique, de modo nenhum, a liberdade geral.

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