TOTH E ÍSIS COM A CRUZ ANSATA NAS MÃOS
"O mito da invenção da arte da escrita, isto é, dos sinais escritos, pelo deus egípcio Toth serve para esclarecer isso. Quando o deus acorreu a Thamos de Tebas com a sua nova descoberta, gabando-se de com ela oferecer aos homens um recurso salvador para a sua memória e portanto para o seu saber, Thamos retorquiu-lhe que a invenção da escrita serviria, ao contrário, para desleixo da memória e para levar o esquecimento às almas, pois os homens confiariam na escrita em vez de gravarem na própria alma a recordação viva."
"Paideia" (Werner Jaeger)
Que melhor exemplo de que o progresso da tecnologia é independente do progresso do homem?
As várias galáxias de Mc Luhan mudaram a nossa forma de ver as coisas, mas não sem o sacrifício de outras vivências.
A resposta do rei de Tebas, por outro lado, aponta para uma perda de autonomia do indivíduo implícita no uso da nova ferramenta. Não é que dependamos mais dos outros num mundo transformado pela tecnologia do que na sociedade primitiva. É que essa dependência assume a forma duma dependência dos objectos.
Com a "recordação viva" perde-se a medida, e se isso permite a expansão da "memória", sem fim à vista, também desintegra qualquer ideia do homem.
Pode-se ver ainda nas palavras de Thamos uma crítica ao saber dessa memória fora de nós, um saber que ele equipara ao esquecimento.
Será, então, a ciência esse esquecimento porque já não tem o homem no seu centro?
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