"Dismantling the Ivory Tower of Thinking"
"Há alguma evidência de que uma dedicação educada e persistente à vida da palavra impressa, uma capacidade para profunda e criticamente nos identificarmos com personagens ou sentimentos imaginários, diminui a urgência, o gume acerado da circunstância actual. Tendemos a responder com mais premência à tristeza literária do que à miséria ao pé da porta. Aqui também os tempos recentes nos fornecem disso a dura evidência. Homens que choraram com o 'Werther' ou com Chopin, atravessaram, sem se darem conta, o inferno literal."
"Language and Silence" (George Steiner)
Esta sensiblidade 'selectiva' será apenas apanágio dos 'homens de letras', do mundo da arte, enfim, encerrados na sua tão bem chamada 'torre de marfim', ou é um fenómeno muito mais comum?
Miguel Ângelo produziu as suas obras-primas num meio político tumultuoso, com Florença envolvida nas guerras dos Médicis e a própria Roma saqueada. Parece que nada desse furor o conseguiu distrair da sua paixão principal. Não era um homem alheio ao que se passava à sua volta, mas escolhia entre o ser mais um 'condottiero' e tornar-se Miguel Ângelo. dispersando-se na anarquia
Mas a 'turris eburnea' não é um 'pecado', ou pecadilho dos grandes artistas. Desde o surgimento do cinema e dos novos mídia, os nossos contemporâneos aprenderam (outros dirão que foram 'formatados', embora as duas coisas sejam conciliáveis) a resguardar-se do mundo, num outro mundo, 'ilusório'.
O símbolo dessa ambiguidade, dessa cegueira voluntária, dessa falta de percepção do que a nossa cultura (e não só a cultura cristã) sempre chamou o 'Mal', foi para a eternidade escolhido por Hannah Arendt e tem nome de Adolf Eichmann. Não há inomináveis nesta galeria.
Steiner é demasiado severo com os seus pares.
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