terça-feira, 15 de novembro de 2016

TEOLOGIA


Renee Bolinger - Philosopher Portraits: Gottlob Frege

"O pensamento não tem necessidade para existir de nenhum complemento, é um todo acabado. Pelo contrário, a negação tem necessidade de ser completada por um pensamento."
(Gottlobe Frege)

Deus existe sem negação até ao momento de uma célebre dissidência. A ideia de Deus é perfeita se fizermos a abstracção do tempo. Começando ele a correr (o que é, sem dúvida, um antropomorfismo) surge o momento criador, o tempo da abertura à negação. É aí que cabe o livre-arbítrio humano.

A matemática, que está fora do tempo, é um todo acabado com um ponto de fuga: os números irracionais. Como a teoria da Relatividade, tem o seu próprio ponto de fuga que é a ideia do buraco negro. Parece que esta teoria só é sustentável enquanto a matemática for capaz de manter os buracos negros fora da existência, como entidades abstractas necessárias à coerência einsteiniana.

Isso significa, voltando à teologia, que o Diabo é necessário à harmonia da Criação. Com a condição de permanecer num estado mitológico semelhante à abstracção de um buraco negro.

Claro que hoje podemos falar de Deus e do Diabo como os Gregos falavam dos seus deuses, sem o mínimo sentimento de transcendência.

Como o pensamento, em Frege, a perfeição divina não precisa de complemento. Até que se 'corporiza' no tempo humano. E o homem é o 'nec plus ultra' da imperfeição e da incompletude.

Pelo simples facto de existirmos já somos negação. O pensamento sem a sua sombra está no Paraíso de Dante.

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