segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A COMUNA DE PARIS



"(...) a Comuna de Paris deu um exemplo, não somente da força criadora das massas operárias em movimento, mas também da incapacidade radical de um movimento espontâneo quando se trata de lutar contra uma força organizada de repressão."

(Simone Weil)

Esta é uma mensagem 'luminosa' num determinado contexto. Mas podia ter sido escrita por um historiador da burocracia soviética, tanto ela deve na linguagem ao marxismo oficial. Simone preparava, interiormente, um outro tipo de revolução onde pôde revelar o seu génio. Mas, ao encontro do paradigma de Foucault, o que encontramos antes, neste texto, são os óculos de uma época. Era assim que, à esquerda, se explicava o fracasso da Comuna.

A mensagem continua, evidentemente, a fazer sentido para muitos, porque não foi, entretanto, aculturada uma outra visão, independente da mecânica e da dialéctica. No fundo, o que é que se diz? Que um exército tem mais probabilidades de sucesso do que uma multidão desarmada (a organização é também uma arma). Hoje, tal explicação para o que se passou na tragédia de 1871, em Paris,  parece pouco.

A comparação com a situação actual deixa-nos ainda mais insatisfeitos. É claro que o conceito de massas já não nos ajuda nada. O que aparece em lugar dessa hipótese um tempo fecunda, é o que alguns já chamaram de populismo electrónico. A tão incensada participação popular, a opinião pública 'soberana' foi, entretanto, capturada pela caricatura da democracia que são as 'redes sociais'. Se escavadas, ainda que pouco, em vão procuraremos o indivíduo livre da utopia. É a 'doxa' de que já falava Platão, na sua pior forma. A verdadeira unidade desta agregação é a partícula browniana do ruído social.

As democracias, ao longo da história, têm-se, basicamente, defendido da volatilidade do 'soberano', com a armadura constitucional, o voto indirecto, as câmaras, os senados, os 'lobbies' e toda uma panóplia de restrições e salvaguardas que fazem da crítica esquerdista a esse poder que se exerce de 'quatro em quatro anos', um verdadeiro 'tiro ao lado'.

Mas chegou o momento de corporizar essa instância quase sagrada de soberania. E, através do grande amplificador que é a tecnologia e os mídia, o que vemos é um títere que não sabe quem é, nem o que quer e que apenas tem apetites.

A estátua de Platão aparece-nos na praia em vez da estátua da Liberdade, como no 'Planeta dos Macacos'.

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