"Os intelectuais judeus da Europa Central, entre as guerras e no pós-guerra, foram especialmente atraídos pelo marxismo: em parte pela ambição prometeica do projecto, mas também graças ao desabamento completo do seu mundo, à impossibilidade de regressar ao passado ou prosseguir da mesma maneira, à aparente inevitabilidade de construir um novo mundo, totalmente diferente."
(Tony Judt)
Nunca tinha pensado nisso, mas o 'mundo novo' pode ser uma 'inevitabilidade' nos espíritos que perderam o passado (ou o mundo que ele representava).
Na realidade, a doutrina revolucionária 'salvadora' é apenas um compasso de espera, porque (até agora) nenhuma utopia pôde substituir um passado histórico. Foi só o tempo necessário para o povo e os seus intelectuais dirigirem a sua bússola para o campo magnético das origens (ou o mito correspondente). A verdade é que Israel se reinventou, e a sedução da 'filosofia alemã' quase não deixou vestígios. O escrito devolveu aos que foram por um tempo os párias da humanidade a sua razão de ser.
António Aleixo fala mesmo num 'mundo novo a sério', o que significa que o mundo novo não é tão inevitável quanto isso, visto que nos podemos contentar com um sucedâneo. Baudrillard diria que nos podemos contentar com um simulacro.
Aliás, talvez o melhor do mundo novo seja uma espécie de 'parusia', a crença que ele há-de vir, quer isso seja o resultado necessário de uma 'lei histórica', ou o fruto de um partejamento da vanguarda. A contraprova é a rápida passagem à distopia, quando se julga 'alcançar' o poder de realizar a utopia.
Porém, graças à tecnologia, estamos em vias de remeter o passado real para o museu da história (ao lado do fuso e da roca, dizia Engels). E este mundo nem sequer consegue imaginar um mundo novo, nem a sério, nem a brincar, porque o nosso mundo é, realmente, o 'fim da história'. Já estamos a ver o 'homo sapiens sapiens' pelo espelho retrovisor.
0 comentários:
Enviar um comentário