quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A ANTIGUIDADE É UM POSTO


A hierarquia militar como fator criminógeno"


"'Eles são de pareceres opostos', dizia um comandante no cúmulo da agitação, 'e são ambos coronéis'; ao que eu dizia, julgando fazer espírito: 'É preciso saber qual dos dois é o mais antigo no posto.' Mas tal não foi de modo nenhum julgado impertinente. Era a solução. Julgue-se, depois disso, um chefe supremo."
(Alain)

Alain fala da guerra. Mas a política é a continuação etc., etc. A solução administrativa de um diferendo está contemplada no regulamento. É tudo enormemente facilitado.

No tempo dos aristocratas, não se podia ter razão contra um nobre, digamos, antes do Iluminismo. Embora Luís XIV, por exemplo, obedecesse ao seu médico e ouvisse o seu confessor, ou até o carpinteiro do palácio quando se tratava das medidas de uma janela, no fundo, isso resultava da sua crença em Deus e na existência de intermediários. Não foi por acaso que os revolucionários endeusaram a Razão.

Ora, o sistema militar não peca por falta de racionalidade. Antes pelo contrário. Foi também Alain que disse que com aqueles princípios o mais certo seria a ruína  programada... racionalmente. Mas isto é a infância do racionalismo. Já devíamos ter todos percebido que a sociedade humana utiliza o método racional, necessariamente, mas não é racional.

Em comparação, o sistema que proclama assentar na vontade popular e que, por isso, tem de recorrer à encenação e ao teatro, só é racional na medida em que os seus 'artistas' conseguem simular um consenso. A democracia é, ainda assim, 'o pior dos regimes, excepto...' etc. porque nos dá a ordem racional, sem o regulamento.

Mas tudo nas nossas origens explica o magma que ameaça o consenso democrático.

Quando a tecnologia complica esse consenso e torna mais problemática a definição do povo eleitor, não só a formação de uma vontade colectiva, mas a capacidade do voto se separar do ruído dos mídia e da ciberesfera e assim traduzir uma opinião autêntica, como seria aquela que idealizaram os legisladores da democracia, temos de nos perguntar se ainda estamos no político ou se já entramos numa outra espécie  de consenso, o consenso das partículas e da sociedade digital.

O 'Corpo sem Órgãos' de que falavam os autores do Anti-Édipo?

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