sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A SÉTIMA PARTE


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"Seria preciso, por exemplo, que a toilete nos lembrasse a pureza interior, os bálsamos os deveres da alma, as massagens a mão do destino e a pintura das unhas dos pés o dever de sermos belos mesma nas dobras mais secretas."
"L'Homme Sans Qualités" (Robert Musil)

Tais são os princípios de uma personagem do romance, o professor Lindner, do qual  o autor nos apresenta mais este interessante apontamento: "Diante de um pequeno lavatório de ferro, lavava a cara, o pescoço, as mãos e um sétimo do seu corpo, cada dia um outro, naturalmente."

Embora o professor Lindner seja um pedante, as suas obsessões são fascinantes e reveladoras do eterno problema filosófico da ligação do corpo e do espírito, problema que, por exemplo, Descartes 'resolveu' com génio através da glândula pineal. Estava errado, mas como diz Chartier, estava errado da maneira certa, porque isolou o corpo-espírito, durante alguns séculos,  de uma deriva místico-metafísica. Sem isso, não seriam possíveis as chamadas ciências humanas.

É também a questão das imagens e dos símbolos que são necessários para que tenhamos presentes algumas coisas essenciais e que são invisíveis, por assim dizer. O protocolo higiénico do professor vai muito mais longe do que a higiene e até do que a moral. Ele serve, pelo seu exagero e 'excesso de consciência', como lente de um comportamento que é próprio de nós todos. E por que é que a 'sétima parte' do corpo, na sua forma vicariante, não é uma simples aberração?

O número sete, porém, diz-nos quase tudo sobre o assunto...

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