quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A MICRO MASSA



"...Não, isso não leva a lado nenhum, continuou. Tu tens razão. Mas não se deve dizê-lo. De tudo o que fazemos hoje, durante todo o dia, o que é que leva a algum lado? O que é que nos dá qualquer coisa, quero dizer alguma coisa de verdadeiro, compreendes? À noite, sabe-se que se viveu mais um dia, que se aprendeu isto ou aquilo, que se cumpriu um horário, mas não se está menos vazio, digo interiormente, experimenta-se uma espécie de fome interior..."

"Les désarrois de l'élève Törless" (Robert Musil )

Pode-se definir melhor a insatisfação dum jovem espírito, que parece ter toda a vida pela frente, mas que nem por isso sente menos que esse futuro, essa força ainda não são nada, que não se justificam por si mesmos?

No colégio de W., inculcam-lhe uma ideia de supremacia que a todo o momento é ameaçada pela realidade envolvente. A aldeia próxima é uma refutação do belo teorema aristocrático.

E a misteriosa vida dos camponeses, como um bafo quente e perturbador, não encontra em Törless as trincheiras defensivas dos outros jovens que a esconjuram através duma sexualidade predatória.

Mas essa simplificação atrai-o, irresistivelmente.

"De resto, dava a ideia de não ter nenhum carácter."

Nesta análise duma mente sem pontos de referência, essa atracção, essa fraqueza anunciam os grandes movimentos de massa.

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