"Não há ciência se não se instituíram [...], numa operação independente, as regras arbitrárias da ciência. É no arbitrário que a ciência se prepara para fazer leis, é pelo arbitrário que ela é possível."
(Paul Valéry)
Esta declaração parece provocatória, numa altura em que a ciência nos surge como a última esperança contra a incerteza absoluta, como a última 'terraferma'. Mas o 'princípio da incerteza' de Heisenberg é apenas um dos paradoxos através dos quais a ciência 'progride' como se houvesse algo acima da razão que os sancionasse, apesar de tudo.
Há um paralelo interessante que se pode traçar com a infância e as formas da primeira aprendizagem. Na verdade, todos começamos por repetir sons, palavras e frases que não compreendemos, cujo sentido se vai iluminando com o tempo. A língua materna, que é diferente de lugar para lugar, não tem nenhum vínculo com qualquer código de uma verdade universal. Nesse sentido, é arbitrária. Foi encontrada antes de ser instituída. Se regras há, é-nos impossível provar que podiam ser outras, o que parece o contrário de alguma coisa arbitrária. É, talvez, a mesma necessidade das leis da geometria que nós também não criámos e, por isso, não podemos responder por elas em termos absolutos.
Mas Valéry diz também que é esta qualidade do arbitrário que torna a ciência possível. O que significa que é o acaso que permite a existência de leis. Como assim?
É que se tudo estivesse 'determinado', e se tivéssemos consciência disso, não haveria diferença entre a existência e a ciência. Por isso é que a 'Revelação' pertence ao 'fim dos tempos'...
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