quinta-feira, 24 de novembro de 2016

REVELAÇÃO FINAL



"Não  há  ciência  se  não  se  instituíram [...], numa  operação  independente,  as regras  arbitrárias  da  ciência.  É  no  arbitrário  que  a  ciência  se  prepara  para  fazer leis,  é  pelo  arbitrário  que  ela  é  possível."
(Paul Valéry)

Esta declaração parece provocatória, numa altura em que a ciência nos surge como a última esperança contra a incerteza absoluta, como a última 'terraferma'. Mas o 'princípio da incerteza' de Heisenberg é apenas um dos paradoxos através dos quais a ciência 'progride' como se houvesse algo acima da razão que os sancionasse, apesar de tudo.

Há um paralelo interessante que se pode traçar com a infância e as formas da primeira aprendizagem. Na verdade, todos começamos por repetir sons, palavras e frases que não compreendemos, cujo sentido se vai iluminando com o tempo. A língua materna, que é diferente de lugar para lugar, não tem nenhum vínculo com qualquer código de uma verdade universal. Nesse sentido, é arbitrária. Foi encontrada antes de ser instituída. Se regras há, é-nos impossível provar que podiam ser outras, o que parece o contrário de alguma coisa arbitrária. É, talvez, a mesma necessidade das leis da geometria que nós também não criámos e, por isso, não podemos responder por elas em termos absolutos.

Mas Valéry diz também que é esta qualidade do arbitrário que torna a ciência possível. O que significa que é o acaso que permite a existência de leis. Como assim?

É que se tudo estivesse 'determinado', e se tivéssemos consciência disso, não haveria diferença entre a existência e a ciência. Por isso é que a 'Revelação' pertence ao 'fim dos tempos'...


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