quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

PARA SEMPRE



"Só uma 'mudança radical' ('umwälzung', a expressão favorita de Hitler, que Martin Heidegger frequentemente citava) poderia 'rejuvenescer' a Alemanha e repor a sua liderança espiritual e política no mundo."


("Hannah Arendt e Martin Heidegger", Elzbieta Ettinger)



'Mudança radical' é uma expressão que muitas vezes aparece na política, em situaçōes de crise e que não quer dizer o que diz. Ou melhor, as pessoas que a empregam não sabem o que querem dizer com isso.

O melhor exemplo de radicalidade é a morte que, em princípio, é irreversível. Esta característica é, aliás, de todos os 'finais felizes' em inúmeros contos infantis e histórias do cinema: 'e foram felizes para sempre'... É também a marca distintiva das utopias políticas, como a de Marx, por exemplo: depois da revolução do proletariado, advirá a sociedade sem classes e o Estado classista 'deperecerá'; a própria história conhecerá o seu fim, como história da 'luta de classes'.

Há qualquer coisa de profecia milenar na invocação da 'mudança radical' que é inseparável desta irreversibilidade. Nesse aspecto, a experiência soviética abriu uma crise de enormes consequências na concepção da utopia, pois que, mesmo se para os crentes ela foi 'globalmente positiva', até esses têm de reconhecer que ela foi tudo menos irreversível.

A primeira consequência disso é a consciência de que, talvez não seja possível ser-se demasiado radical. Há um ponto antes da aniquilação da antiga ordem das coisas que não pode ser ultrapassado sem inviabilizar qualquer ordem que seja. Contudo, pelo menos, conforme as lições da história que conhecemos, esse 'resíduo' é suficiente para restaurar a ordem que se julgava ter sido 'superada'.

0 comentários: