Hannah Arendt |
"(...) no nosso tempo, mesmo pessoas boas e no fundo
valorosas têm o medo mais extraordinário de emitir juízos. Essa confusão com o
juízo pode ir a par de uma inteligência refinada e robusta, tal como o bom
juízo se pode encontrar naqueles que não se notabilizam pela sua
inteligência."
(carta de Hannah Arendt a Karl Jaspers, Dezembro de 1963)
A liberdade do pensamento está na ponta da dúvida
sistemática (ou metódica, como dizia Descartes). Compreende-se, assim, que a
inteligência mais esclarecida se retraia de tomar um partido. Felizmente que
essa sabedoria chega com a idade própria, que é a velhice contemplativa.
Mas na 'força da vida', como dizia Alain, a primeira
virtude não é a sabedoria, mas a coragem, que novos e velhos admiram. Não sem
que o vício, tantas vezes, ao longo da história, não tenha imolado os melhores e
os mais fortes em guerras do seu interesse. Porque quem provoca é o vício, mas
quem combate, até ao sacrifício total, é a virtude (Vauvenargues).
A acção que não espera pede a coragem de decidir sem se
estar certo de tudo o que seria preciso para o seu êxito. E o nome de acção, neste sentido, não deveria
confundir-se com a actividade programada que só exige bom sentido administrativo
e capacidade de planeamento.
É certo, porém, que há uma coragem superior a todas, mas
que é rara, do que 'sabe' e decide sem
saber tudo, mesmo assim. É a coragem nua, por assim dizer. Porque não há
entusiasmo ou ilusões que a amparem.
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