terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CORAGEM

Hannah Arendt



"(...) no nosso tempo, mesmo pessoas boas e no fundo valorosas têm o medo mais extraordinário de emitir juízos. Essa confusão com o juízo pode ir a par de uma inteligência refinada e robusta, tal como o bom juízo se pode encontrar naqueles que não se notabilizam pela sua inteligência."

(carta de Hannah Arendt a Karl Jaspers, Dezembro de 1963)




A liberdade do pensamento está na ponta da dúvida sistemática (ou metódica, como dizia Descartes). Compreende-se, assim, que a inteligência mais esclarecida se retraia de tomar um partido. Felizmente que essa sabedoria chega com a idade própria, que é a velhice contemplativa.

Mas na 'força da vida', como dizia Alain, a primeira virtude não é a sabedoria, mas a coragem, que novos e velhos admiram. Não sem que o vício, tantas vezes, ao longo da história, não tenha imolado os melhores e os mais fortes em guerras do seu interesse. Porque quem provoca é o vício, mas quem combate, até ao sacrifício total, é a virtude (Vauvenargues).

A acção que não espera pede a coragem de decidir sem se estar certo de tudo o que seria preciso para o seu êxito.  E o nome de acção, neste sentido, não deveria confundir-se com a actividade programada que só exige bom sentido administrativo e capacidade de planeamento.

É certo, porém, que há uma coragem superior a todas, mas que é rara, do que 'sabe' e decide  sem saber tudo, mesmo assim. É a coragem nua, por assim dizer. Porque não há entusiasmo ou ilusões que a amparem.

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