"- ...em forma para fazer o quê?
- Mas...eu sei lá...para estar em forma! É a vida, não
é?!"
(Eric-Emmanuel Schmitt: 'La Secte des Égoïstes')
Schmitt imagina este diálogo num ginásio onde reinam os
niquelados e as almofadas em 'skaï', onde o corpo das mulheres deixou de
"ser desejável, à força de ser desportivo" entre "combinações
fluorescentes que mais facilmente veríamos em painéis assinalando obras na
estrada ou então um acidente."
Por que vem este 'marciano' fazer perguntas que deviam
ter uma resposta óbvia, mas que realmente nos deixam a tartamudear? O ginásio
que 'produz' aquelas criaturas 'ossudas, sem peito nem nádegas', afinal não é
diferente do hábito de coleccionar selos ou de ir tirar fotografias em 'Machu
Picchu' para a página do 'Facebook'.
Alguns (bem poucos na verdade, nos tempos que correm)
podem consumir a sua vida escolhendo no catálogo vistoso que a publicidade mais
ou menos sofisticada graciosamente coloca diante dos nossos olhos. A escolha é
sempre nossa, dizem. Somos livres para embarcar na primeira 'nave dos loucos',
ou para fazermos do 'templo' (na linguagem evangélica) que nos coube em sorte o
teatro da nossa vaidade.
'Estar em forma' é uma expressão que insinua que estamos
preparados (ou o melhor preparados possível) para o que der e vier. Estaremos,
enfim, preparados para viver. Mas o meio torna-se facilmente a finalidade e a
vida adia-se com o pretexto de estarmos cada dia mais prontos para ela.
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