segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A VIDA DE PI



"A vida de Pi" leva-nos, homens de pouca fé, a aderir à sua bela metáfora que tão bem explica a religião, como se Pi (Suraj Sharma) pudesse pensar nos dois planos (o da realidade prosaica e o do mito e da poesia) e fosse preciso escolher entre o que é 'realista', mas falso, e o que é incrível, mas verdadeiro.


Pi, desde criança que se interessa por todas as religiões, contra o conselho paterno de ter de escolher a do seu povo. Mais tarde, o pai tem de vender o zoo familiar (e com ele um tigre de Bengala chamado Richard Parker, por troca de nomes no registo) para emigrar para o Canadá. Durante a viagem, ocorre uma pavorosa tempestade e o barco afunda-se. Escapam o jovem Pi e alguns animais. A hiena mata a zebra ferida e o tigre devora a hiena. A longa navegaçäo sem destino com o tigre obriga o rapaz a lutar pela sua vida, numa situação já de si perigosa, levando Pi a refugiar-se numa espécie de jangada a poucos metros do bote. Por fim aprende a 'domar' a fera e a impor o seu território. Aportam depois a uma ilha pejada de suricates que se torna carnívora durante a noite (revelação de um dente humano incrustado no interior duma flor), onde Richard Parker abandona o seu 'amigo' sem olhar para trás. Pi tem de abandonar a ilha depois de se reabastecer em água e frutos. Por fim, é salvo por um navio que passa. A cena que vem 'esclarecer' este belo conto passa-se com os dois investigadores da companhia japonesa de seguros que ouvem de Pi esta história e a recusam por não ser verosímil. O jovem conta-lhes então uma outra história que é aquela em que todas as pessoas (e os patrões da companhia) acreditam. Que os animais eram de facto membros da tripulação, sendo um deles, o cozinheiro (Depardieu), particularmente violento e canibal, representado pela hiena. Pi teve mesmo de o matar e com isso alguma coisa de mau entrou nele e passou a viver dentro de si. Era o tigre.

Como Pi mais tarde explica, a religião é entre as duas versões escolher a melhor (a mais bela, e por isso a mais verdadeira, segundo a ideia platónica).

E é a célebre anedota do escorpião que Welles gostava de contar: Kane, Arkadin, Quinlan...

Uma história que condena a humanidade ao Inferno, ou a escolher o seu animal.

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