segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

HIDRA


insecula.com



"O homem que acusa a Natureza é um homem que começa a morrer e que deseja mesmo morrer."

(Alain)



Acusar a chuva que nos estraga os planos dum passeio pelo campo é absurdo. Mas conhecemos muitas pessoas que o fazem, embora duma maneira mais indirecta, acusando, por exemplo, a sua pouca sorte.

Ora o que faz o absurdo é que a Natureza é um outro nome para a Necessidade a quem, pensavam os Gregos, até os deuses se submetem. Claro que a ideia oitocentista de que a missão do homem é dominar a natureza nos foi útil para separarmos as leis inflexíveis do fatalismo ou da simples preguiça. Mas hoje sabemos um pouco mais quais são os nossos limites, mesmo se há quem pense que podemos destruir o planeta e que isso teria algum significado para o Universo. A nossa loucura apenas faria de nós mais uma força no conjunto de forças necessárias para a explosão de mais um planeta.

Ao mesmo tempo que a Natureza se distanciou de nós, compreendemos que muitas coisas que passam por ser criaçōes da humanidade não o são de facto e agem sobre os indivíduos como a Necessidade.

Uma delas é a má política e os maus políticos. Nunca nos livraremos deles por muitos esforços que façamos. Lembremo-nos dos três animais que, na imagem de Platão, lutam dentro de nós. Não podemos eliminar a hidra. De resto, nem sabemos até que ponto ela nos é necessária.

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