quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MAIS DA DOUTRINA DO CHOQUE




"(...) O que estava em jogo nas lutas de classes não era tanto a partilha do poder, o conflito entre democratas e oligarcas, como a supressão das dívidas e a redistribuição da propriedade do solo."

( Paul Veyne, "Le Pain et le Cirque")



A ideologia dum progresso contínuo absoluto na situação das classes não pertencentes à 'oligarquia', foi até há bem pouco confirmada pela experiência, sobretudo ao nível da classe média, apesar do fosso entre os extremos não ter parado de crescer.

É claro que na presente crise do euro (cavalgada por outras crises talvez mais complicadas), a nossa situação é bem diferente daquela que existia na Roma antiga, conforme a descrição de Paul Veyne.

Não podemos suprimir a 'dívida odiosa' que nos esmaga, criada muito por culpa de terceiros (os que agora nos submetem ao jugo), porque estamos numa armadilha chamada Europa. Na altura da nossa adesão parece que não havia economistas do regime que pudessem prever o efeito da moeda forte na nossa economia, como faltaram os que antevessem o desastre da 'bolha imobiliária' e da 'desregulação' 'à la Reagan & co.'.

A Europa parece ter-se tornado, assim, na melhor garantia para os credores (os honestos e os outros) para que a dívida odiosa seja cobrada, mesmo que não fique 'pedra sobre pedra'. Passe o exagero, porque esses credores querem continuar no negócio.

Não chegaremos ao grau zero porque o lucro não nasce aí. A 'Europa' não quer isso. Mas pelo caminho aplicarão a receita neoliberal de que fala Naomi na 'Doutrina do choque'.



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