Santo Agostinho (351/430) |
“E indaguei o que seria a iniquidade, e não encontrei que fosse uma substância, mas sim a perversidade de uma vontade, que se desvia da suprema substância, de ti, que és Deus, para as coisas ínfimas, e que lança de si o que tem no seu íntimo e entumesce por fora.”
Santo Agostinho (“Confissões”)
Agostinho andou até à maturidade às voltas com o problema da origem do mal, se o mal era uma substância e de como é que Deus o poderia ter criado.
Isso levou-o pelo maniqueísmo e outros caminhos sinuosos, para grande desgosto de sua mãe, a futura Santa Mónica.
Só o contacto indirecto com a filosofia de Platão (através dos neo-platónicos que restauraram o espírito do filósofo, depois da traição dos Académicos que tinham caído no cepticismo e no dualismo), é que lhe permitiu compreender a ideia do Logos e duma única substância. E quando todas as reservas que uma interpretação literal de certas passagens da Bíblia lhe levantavam puderam ser vencidas pela distinção entre a letra e o espírito. “O que é que ele quer dizer com o Espírito?” – perguntava Comte, referindo-se a Hegel (citado por Alain).
Aquele que se tornou num dos maiores doutores da Igreja e que tanto fez pela integridade da doutrina, desconhecia, pois, Platão, mas este não deixou de iluminar o seu caminho.
Pode-se especular sobre se, não fosse esse encontro com a grande filosofia grega, o Cristianismo, menos de um século depois do Édito de Constantino, teria atravessado os séculos seguintes de heresias, cismas e lutas pelo poder e chegar aos nossos dias como uma das grandes religiões do planeta.
E é sedutor imaginar uma história, não do pensamento religioso, nem do pensamento filosófico, nem do pensamento científico, nem do pensamento do Ocidente ou do Oriente, mas do pensamento sem mais.
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