"A medicina
(iatrikè) foi assim chamada outrora a partir da extracção dos 'ioi'
("flechas" ou "venenos");"
(Sextus Empiricus)
Vê-se que a primeira ideia da medicina antecipava o
spinozismo. O corpo tem uma perfeição própria que é eterna. São sempre causas
externas a trazer-lhe a ruína (uma flecha ou um veneno).
Esse corpo era um conceito que a realidade desmentia
teimosamente, segundo o nosso ponto de vista. Acreditamos em causas endógenas,
males de nascença que já não sabemos bem se pertencem ao indivíduo ou à espécie
e ao meio em que vive. O corpo não está isolado, nem nasceu, armado como
Minerva, da coxa de Júpiter.
Mas a 'infância' da medicina não inventou a ideia do
corpo condicionalmente imortal. Começou por um mito, como é para nós o de Adão
e Eva.
Se não fôssemos obrigados a 'interagir' com o nosso meio,
quem sabe se não seríamos mesmo imortais? Dizem alguns que as células
cancerosas o são. Mas também elas dependem da interacção, e com a morte do
doente morre a peçonha.
Estamos em vias de regressar a uma Natureza que
conhecemos menos do que nunca e que nos inclui necessariamente. É essa a imortalidade que está ao nosso alcance.
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