segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

FALAR SEM SABER

Émile Chartier (Alain)



"Evidentemente um literato gostaria de seguir todo este trabalho. Tiraria daí a conclusão que eu sempre falei antes de saber. É aos meus olhos o verdadeiro método, e é a forma que mostra se a ideia está bem esclarecida..."

(Alain)


 


Quem julga que sabe está perdido, depressa se transforma num recitador de fórmulas. Ninguém dirá que as máquinas de calcular sabem.

Ora, especialistas que aplicam fórmulas ao que não conhecem fazem a opinião que conta na eeconomia e na política. Não é, pois, coisa de somenos.

O método de que fala o filósofo é outro e procede como se toda a fórmula tivesse de ser reinventada. Os mais autênticos dos nossos pensamentos vêm do invencível problema da epistemologia que é a ligação corpo-espírito que alguns resumem num órgão (seja o coração ou a glândula pineal de Descartes). Não vêm das nossas abstracções que, no entanto, podem engendrar novas abstracções ou quimeras, indefinidamente. Se houvesse um puro matemático, esse seria um exemplo. Mas temos a outra ideia, a do homem-todo que pensa: como Einstein. Não fosse ele um poeta da natureza em busca duma harmonia que tantos gigantes, antes dele, procuraram, seria mais um 'jogador' de fórmulas, à espera de encontrar o novo com um lançamento de dados. Mas já ele mesmo dizia: "Deus não joga aos dados."

Estamos, pois, obrigados e justificados a falar do que não sabemos se quisermos chegar mais perto da verdade humana.


 

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