Tony Blair |
"Na última conferência do Partido Trabalhista, em vez de tentar defender as suas razōes para ir para a guerra do Iraque, Blair informou simplesmente o público que "acredita" que ele deve partilhar a sua "crença", e que de qualquer modo (como Martinho Lutero: "Aqui me fico, não posso fazer outra coisa") ele não mudaria de ideias."
(Tony Judt)
Um caso destes pôde ocorrer num país com as mais consagradas tradições democráticas, aparentemente, sem pôr em causa a democracia.
Mas o essencial da ideia democrática moderna é a livre discussão entre iguais com base num atributo que é comum a todos os homens, independentemente das suas crenças religiosas, da sua classe, do seu sexo ou da sua raça: a razão. Nos seus começos, na Grécia antiga, os 'iguais' eram uma minoria constituída apenas pelos cidadãos que excuia os escravos e as mulheres.
Quem parece defender a invasão do Iraque, a julgar pelas palavras de Blair, é o próprio Deus que representa aqui a impossibilidade de qualquer discussão. Blair, como seu intérprete só pode 'partilhar a sua crença' que é na verdade um mandato que se sobrepõe à política e à própria razão.
Esta atitude não é muito diferente, no fundo, da do líder carismático que estabelece com as massas um pacto de adesão para um fim, quase sempre, irracional, como se viu na Alemanha e na Itália do século XX.
Só o contexto era muito diferente e faltava, evidentemente, o carisma. Mas o episódio, retintamente anti-democrático passou sem comoção de maior e a Inglaterra ajudou Bush filho na sua mentira, ou na sua crença de 'evangelical rally'.
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