domingo, 10 de junho de 2012

UMBERTO D.

"Umberto D." (1952-Vittorio de Sica)


O filme começa com um protesto de reformados que é disperso, "filialmente', pela polícia. Umberto Domenico Ferrari é um deles. Foi funcionário das Finanças durante 30 anos e se não conseguir um pequeno aumento da pensão será "despejado" pela sua senhoria. A alternativa é ele e o seu cão Flick passarem um mês sem comer. Na extremidade até se lembrou de aproveitar uma febre por causa duma amigdalite para ir "hospedar-se" no hospital. Mas quando regressa, o seu quarto está virado do avesso e com um buraco para a rua. A senhoria prefere que ele não lhe pague para poder remodelar a casa com vista ao seu próximo casamento com um tipo oleoso que faz parte do seu círculo íntimo de amantes do 'bel canto'. Conformado, Umberto despede-se do único ser que parece interessar-se por ele, a criadita que esconde à patroa que está grávida e que não sabe ao certo quem é o pai, e procura agora apenas deixar o canídeo a quem goste de animais. Mas isso é mais difícil do que parece e nem ele consegue despistar o Flick antes de se meter debaixo dum comboio. Depois de, em desespero de causa, ter arrastado o cão no seu suicídio, este protesta escapando-lhe das mãos. O final, no jardim do Palatino, parece que é o animal que ensina o velho a viver, mas na verdade só pensamos que isso significa a reconversão da personagem e o gesto de estender a mão à caridade apressada.

Nos anos 50, Roma era uma sombra do que hoje é (apesar da crise). É impossível ver naquelas imagens de Santa Maria Sopra Minerva e do próprio Pantheon outra coisa que não o cenário gasto de um drama.

Este filme chegou a fazer parte duma das muitas listas que já se fizeram dos dez melhores da história do cinema. Merece-o. Mas nós mudámos tanto que a sua linguagem parece ser a de mais uma "camada" arqueológica de Roma.

0 comentários: