Karl Popper |
“Tive, pois, de
suprimir o saber para encontrar lugar para a crença; e o dogmatismo da
metafísica, ou seja, o preconceito de nela se progredir, sem crítica da razão pura,
é a verdadeira fonte de toda a moralidade e é sempre muito dogmática...”
(Kant)
Karl Popper diz que, na ciência, não há conhecimento, mas
conjectura (ou conhecimento conjectural). Essa afirmação, como se vê, é
contrária ao que pensava Kant. O filósofo de Koenigsberg ainda sustentava um
saber "certo", apesar de ter sido contemporâneo dum fenómeno social
que abalou todas as certezas: a Revolução Francesa.
A certeza talvez só se possa salvar na matemática, mas aí
já não estamos a falar da Natureza, nem das ciências naturais.
É, precisamente, porque não podemos ter a certeza sobre o
que sabemos sobre a Natureza que a crença é uma condição 'sine qua non'. O
contrário disso, isto é, a certeza,
tornar-nos-ia supérfluos, porque o conhecimento seria, por assim dizer,
autónomo, o que não faz sentido.
Mas este é o fundo da ideia cartesiana. Depois de nos
despojarmos de todos os preconceitos (como se isso fosse possível), chegaríamos
à evidência. Mas o que é evidente não é, só por isso, real. Digamos que Descartes
descobriu no acordo dos espíritos o ponto de partida para o conhecimento, o que
é, desde logo, muito moderno.
Esse ponto de partida, donde se podem extrair todas as
consequências lógicas, une os espíritos para além de todas as diferenças, mesmo
a que no tempo de Péricles era a maior de todas. É o que se vê no
"Menon" de Platão, quando, para provar a sua teoria das ideias
inatas, Sócrates apela à inteligência dum jovem escravo.
O "dogmatismo" que é característico da
moralidade, como diz Kant, distingue-se da crença no "conhecimento
conjectural" porque se inspira no mundo das certezas possíveis (o da
matemática) para "decretar" o que é bom para a comunidade. E como o
caso de Sólon o atesta, pode não partir dum primeiro acordo, mas ser antes uma
espécie de "contrato de adesão".
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