A crise divide os portugueses porque não se inventa uma
política nova só porque as condições de vida pioraram.
Desde que a polícia não interfira, discutimos e haveremos
sempre de discutir, o que é, sem dúvida, uma boa coisa. É certo que diante do
perigo os esforços para a unidade deveriam ser mais fáceis. A ameaça externa, em geral,
une os desavindos da véspera, porque o homem, como diria Spinoza, inclina-se
para "perseverar no seu ser".
Não deixa de ser estranho, porém, que a crise, entre nós, continue a ser vista como uma manigância do inimigo interno (de estimação) e que os partidos
prossigam, apenas com um pouco mais de adrenalina, o seu costumeiro jogo de demarcação e os
vários, mas sempre os mesmos, "interesses corporativos" continuem a castigar,
exclusivamente, o grande animal de carga representado, com a respectiva albarda, nas gravuras do Bordalo Pinheiro, como se a crise não fosse com eles.
Ninguém já pode ter ilusões sobre a gravidade do que se
está a passar. Contudo, o futebol continua a ser a única ideia verdadeiramente
nacional. Periodicamente, renascemos como povo nas esperanças da
"selecção", para logo que acabam as "transmissões" cairmos
outra vez na apatia, enquanto as elites no poder tratam da sua vida.
O "pane et circenses" funciona sempre. Falta
quem ponha mão na carbonária dos banqueiros que querem levar o jogo "à glória".
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