Flickr ( Erich Ferdinand) |
"Por todos os meios, os estupefacientes, as ilusões,
a sugestão, a fé, a convicção, algumas vezes simplesmente graças ao poder
simplificador da estupidez, o homem esforça-se por criar um estado semelhante a
esse. Ele crê nas ideias não porque aconteça que sejam verdadeiras, mas porque
é "obrigado" a crer. Porque é "obrigado" a fazer reinar a ordem no
seu coração. Porque tem de tapar por meio de uma ilusão esse buraco nas
paredes da sua vida através do qual os seus sentimentos só pedem para fugir a
todos os ventos."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
A ideia é que os sentimentos são o limiar precário da
fusão do ser. Essa fronteira, porém, só pode manter-se enquanto lhe dermos um
objecto.
O objecto é o que nos mantém "à tona". E todos
os graus da crença ( e da convicção) são necessários para segurar o mundo dos
objectos e os nossos sentimentos.
A 'despressurização' do simbólico ( quando não é possível
tapar esse "buraco" nas paredes da vida) é também a dispersão do
sujeito.
A ordem interior é, assim, o resultado duma resistência e
duma contínua "reelaboração" que envolvem o corpo e o espírito,
contra o cerco infatigável duma íntima realidade que significa a morte do
indivíduo.
0 comentários:
Enviar um comentário