quarta-feira, 13 de junho de 2012

O TEMPO DA RAPOSA



"(...) mas ninguém deu pela evidência de que a única maneira de satisfazer as reivindicações 'corporativas' dos capitães consistia em acabar com a guerra."


(Vasco Pulido Valente in "Portugal - Ensaios de História e de Política")




Ou seja, no seu contexto, os problemas de carreira e de pilim dos militares eram já a condição suficiente para o "25 de Abril". A adesão posterior da população terá bastado para transformar o golpe numa revolução?


Há um documentário romeno ( Corneliu Porumboiu) em que se debate uma só questão: o protesto popular, com os ajuntamentos na praça principal, começaram antes ou depois do anúncio da queda do regime de Ceausescu? Foi uma ratificação popular sem qualquer risco, ou o início duma "revolução"? 


Em face do que se seguiu, num e noutro caso, a questão parece de somenos. Só não o é para o amor-próprio dos respectivos povos, ou para o que nova mitologia tem necessidade de fazer crer como sendo o protagonismo do povo.


Fizemos hoje quase 180 graus em relação às expectativas do "25 de Abril". A "doutrina do choque", com grandes avanços e pequenos recuos, está a ser metodicamente implementada nos países afectados pela crise. Como Milton Freedman aconselhava, a crise é, na verdade, uma excelente oportunidade para impor as ideias da "plutonomia" nos países em que a democracia seria um obstáculo. Oportunidade é, de resto, uma palavra-gazua. Até o desemprego é uma oportunidade. Só a morte, parece, é que não é. Fica à vista que essa palavra significa agora, mais ou menos, o que significava a esperança, a qual, como se sabe, era a última a morrer.


A julgar pelos antecedentes, não fecharemos essa agenda com uma revolução. Por outro lado, há tudo a recear dum "movimento corporativo". O "25 de Abril" envelheceu mal. Onde está a criança que enfiou o cravo na boca da espingarda? Face aos novos poderes, é o tempo da raposa.

0 comentários: