terça-feira, 12 de junho de 2012

PROMETHEUS

"Prometheus" (2012, Ridley Scott)


Não é a primeira vez que o passado longínquo (aqui, o das pinturas rupestres) é relido como um enigma que anuncia um encontro no futuro. David (Michael Fassbinder), o robot que nos remete para a personagem de Keir Dullea no filme seminal de Kubrick, não compreende que a missão não tenha um fim. Que depois de reconhecidos, noutro planeta, os pais da espécie, seja preciso ir ao encontro da origem desses. Como o robot sabe, esse não é um objectivo racional, é apenas "demasiado humano". E, como vemos, o super-computador Hal 9000, em "2001" tinha a mesma agenda, mas precisava de a manter secreta (por "imaturidade dos humanos"?) e o outro David tem de recorrer ao extremo de desligar o "cérebro" da nave. Em "Prometheus", é Elisabeth Shaw (Noomi Rapace), a antropóloga submetida à experiência  de Ripley (Sigourney Weaver) de parturejar o monstro, na série "Alien" (fabulosa cena de auto-obstetrícia!) que impõe ao "computador" a missão "metafísica".

A revelação para os cientistas de "Prometheus" é que os "pais" da espécie se viraram, como os titãs da mitologia contra a sua prole. Isso é uma consequência de se ter "isolado" o mal num planeta longe de "casa". A concentração do poder destruidor no planeta-arsenal transformou os guardas em monstros para a sua própria espécie.

As sugestões cinéfilas estão por todo o lado. Citemos "Solaris", por exemplo. A ameaça que o ambiente deste planeta representa para os humanos é o da fusão do espírito com a "matéria". Os astronautas perturbados por essa influência convivem com a sua própria memória (a "ressurreição" da mulher de Kevin) num cérebro tornado ambiente aberto. Este, comparado com o ambiente hostil de "Prometheus",  é o lado "luminoso" do não-humano.

Depois há a caverna que se revela ser parte duma nave enterrada e onde o armamento "dorme" como os astronautas em viagem. Unindo as duas pontas, poderíamos ver aqui a história duma outra "viagem", a da caverna alegórica até ao arsenal de "Prometheus".

Os deuses têm sempre razão? E não foi Prometeu castigado por ter tentado comparar-se a eles?

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