"O declínio de Roma foi o efeito natural e
inevitável da grandeza imoderada. A prosperidade amadureceu o princípio da
decadência; a causa da destruição multiplicou-se com a extensão do império; e
tão logo que o tempo ou o acidente removeram os suportes artificiais, a
estupenda construção cedeu à pressão do seu próprio peso. A história da ruína é
simples e óbvia; e em vez de inquirirmos por que é o Império Romano foi
destruído, deveríamos antes estar surpreendidos que ele tenha subsistido tanto
tempo."
(Edward Gibbon)
Gibbon não descobriu nenhuma lei que condenasse à partida
o Império por causa do seu tamanho, embora uma multidão de factos, desde o
Antigo Egipto aos dinossauros pareçam justificar a analogia.
De facto, tirando a Igreja Católica, não existe
contra-prova. Aquela entrou no terceiro milénio e já passou por períodos de
prosperidade e de decadência e conheceu, além disso, a negação do seu próprio
espírito, com a Inquisição, e o que teria sido fatal em qualquer outra
instituição revelou-se mais uma "provação" vencida.
João Paulo II estava convencido, apesar disso, que a
Igreja sofria de "um complexo de inferioridade" perante o mundo
moderno e dedicou-se a uma espécie de contra-ofensiva que, mais do que qualquer
outra coisa, lhe granjeou a fama de ultra-conservador.
Aquilo a que Auguste Comte chamava de poder espiritual,
hoje, em nenhum lugar está tão significativamente representado como nessa
Igreja "acomplexada" e cercada por todos os lados. Todas as outras
vozes, com efeito, são "opiniões" e nada mais do que isso. Só o facto
de se poder impor como uma tradição do espírito e de se poder reclamar duma verdade
transcendente torna a Igreja, ao mesmo tempo anacrónica e
"providencial". Esse "anacronismo" é o pólo que falta a um
mundo unidimensional.
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