Blaise Pascal (1623/1662) |
"Por isso existem especialistas, mas não
autoridades, facto que ainda não se encontra suficientemente
estabelecido."
(Karl Popper)
Um título é alguma coisa,
e nós, portugueses, somos dados a acrescentar autoridade a qualquer título. Por que é que um dos nossos mais prolíficos romancistas queria tanto ser barão?
Um título "participa" do poder supremo, como
Luís XIV de França queria que, da sua pessoa, como do vértice da pirâmide,
descessem todas as formas de autoridade.
Quase quarenta anos depois da queda do nosso
"déspota iluminado", novos e velhos títulos continuam a aspirar a uma
autoridade de empréstimo daquele "vértice" vazio.
A realidade económica é que não se compadece com a nossa
"décalage", subvertendo o sentido dos títulos. O jovem médico que
recebo em casa, por causa duma gripe, é provavelmente "explorado"
pelos seus patrões, pertençam eles ao público ou ao privado. E a deferência com que o trato é, talvez, um hábito
que está a cair em desuso. Ele é apenas mais um especialista em regime
precário.
Sinto que a minha "chapelada" nem sequer se
justifica pelos novos costumes, o que era uma razão suficiente aos olhos de
Pascal, mas que agora é um simples atavismo.
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