segunda-feira, 4 de junho de 2012

ASPIRANTES

Maurice Blanchot (o da bengala)


"A palavra poética não se opõe somente à linguagem comum, mas também à linguagem do pensamento. Nesta palavra, não somos já reenviados ao mundo [...] Nela, o mundo recua."

(Maurice Blanchot, "L'espace littéraire", cit. Jean-Pierre Cometti)




Que luxo inacreditável é este da poesia, a palavra assim desviada dos seus fins, como se se contasse aqui, outra vez, o mito de Prometeu?

O mundo recua, quer dizer, deixa-nos livres para o considerarmos, como se fosse mais um astro no céu. Não admira que o primeiro pensamento fosse poético. Mas, talvez, aqui, projectemos de mais o mundo, tal como o conhecemos, na origem em que não havia mundo para que fôssemos "reenviados".

Esta "irresponsabilidade" (ela não responde pelo mundo) da poesia será que consente algum critério sobre a qualidade do poético? 

A poesia parece mais apta a criar um mundo do que a descrever o que existe. Utopia e distopia do sentir.

Por isso, talvez que a palavra poética só se encontre numa pequena parte dos que aspiram.

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