Maurice Blanchot (o da bengala) |
"A palavra poética não se opõe somente à linguagem
comum, mas também à linguagem do pensamento. Nesta palavra, não somos já
reenviados ao mundo [...] Nela, o mundo recua."
(Maurice Blanchot, "L'espace littéraire", cit.
Jean-Pierre Cometti)
Que luxo inacreditável é este da poesia, a palavra assim
desviada dos seus fins, como se se contasse aqui, outra vez, o mito de
Prometeu?
O mundo recua, quer dizer, deixa-nos livres para o
considerarmos, como se fosse mais um astro no céu. Não admira que o primeiro
pensamento fosse poético. Mas, talvez, aqui, projectemos de mais o mundo, tal
como o conhecemos, na origem em que não havia mundo para que fôssemos
"reenviados".
Esta "irresponsabilidade" (ela não responde
pelo mundo) da poesia será que consente algum critério sobre a qualidade do
poético?
A poesia parece mais apta a criar um mundo do que a
descrever o que existe. Utopia e distopia do sentir.
Por isso, talvez que a palavra poética só se encontre
numa pequena parte dos que aspiram.
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