segunda-feira, 25 de junho de 2012

PROFECIAS


"(...) o futuro nunca é um prolongamento do passado nem uma sua extrapolação."

(Karl Popper)


Mas a que se dedicariam, então, os vários 'especialistas' em fazer previsões para o futuro? A única previsão que devia ser tolerada é a que se fundamenta na experiência do 'homo sapiens': a de que, a prazo,  estaremos todos mortos, como dizia Keynes.

O súbito desemprego de tanta gente competente em traçar 'cenários' e em desempenhar o papel de Cassandras da economia lançar-nos-ia em plena desorientação.

A mais recente invenção do "sistema" (por higiene mental, devemos abster-nos de o qualificar, ou só o deveremos fazer quando se produzir uma alternativa, nem que seja utópica) é a de tentar antecipar esse futuro que não pode ser "um prolongamento do passado", nem "uma extrapolação", como "profecia auto-realizante", através da avaliação. Não se pode prever o futuro, nem é sério apresentar 'cenários' com base em alguns parâmetros pretensamente controlados.

Diz Jean-Claude Milner (citado por António Guerreiro) que "os avaliadores são os sofistas do nosso tempo; que a sofística da avaliação resolve sumariamente a questão dos critérios e da legitimidade dos avaliadores."

No caso das agências de 'rating', até se tem verificado que essa questão dos critérios e da legitimidade não é relevante. Os avaliadores podem ter um interesse mais do que conspícuo na avaliação, nem serem sancionados pelos erros mais clamorosos. A sua influência não é perturbada por isso. E só pode haver uma razão para este funcionamento "paranóico": é que a avaliação é uma peça fundamental da especulação financeira. Não havendo concorrência (europeia, por exemplo), até se pode dar ao luxo de não precisar de ser 'credível'.

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