José Agostinho de Macedo (1761/1831) |
"Eu sinto, eu sinto hum Deos; não foi do Acaso
A
milagrosa producção do Mundo!
Obra só foi do Artifice supremo:
Hum rio origem
tem, o effeito causa.
Tantas estrellas lucidas dispersas
Nesta estendida
cúpula azulada,
Esta Lua, este Sol, o dia, a sombra,
(Constante alternativa;)
a luz, e os ares
São cifras com qu'escreve a mão suprema
De hum Ente Summo,
Sapiente, Immenso.
Na flor, na planta, no mimoso fructo,
Nos rostos varios, e
animaes diversos,
Nos sons, nas côres, na minha alma o vejo,
Almo thesouro da
Clemencia eterna."
"Newton" (José Agostinho de Macedo)
O poema deste ferrabrás de padre que foi Macedo não
acontece para defender a religião da ciência. A obra magistral de Newton, ele
próprio devoto, só vem provar uma harmonia que só estava no sentimento. De
facto, todas as provas que vieram depois podiam ter o mesmo significado, mas
não tiveram. Porque, entretanto, o prestígio, chamemos-lhe assim, pendeu para o
lado iluminista. E a capacidade de acumular provas do seu próprio poder, já fez
com que a Teoria da Relatividade, por exemplo, encontrasse todo um outro
contexto.
O universo (e não se pode dizer: à medida que se conhece,
porque "sabemos" que não podemos abandonar a antropologia) é uma
espécie de metáfora do irredentismo humano.
Macedo escreveria, sem dúvida, um outro poema a Einstein,
em que não seria, talvez, tão grande a diferença entre os que ilustram e os que
inquietam.
"O Mundo deve aos Conquistadores desgraças,
lagrimas, e lutos; o Mundo deve a Newton verdades, sciencia, e luzes. Se
inquietar os homens tem merecido tantas Epopéas, porque não merecerá hum Poema
quem illustra, e quem ensina os homens? " (ibidem)
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