sábado, 9 de junho de 2012

NEWTON E O MIGUELISTA

José Agostinho de Macedo (1761/1831)


"Eu sinto, eu sinto hum Deos; não foi do Acaso
 A milagrosa producção do Mundo!
 Obra só foi do Artifice supremo:
 Hum rio origem tem, o effeito causa.
 Tantas estrellas lucidas dispersas
 Nesta estendida cúpula azulada,
 Esta Lua, este Sol, o dia, a sombra,
 (Constante alternativa;) a luz, e os ares
 São cifras com qu'escreve a mão suprema
 De hum Ente Summo, Sapiente, Immenso.
 Na flor, na planta, no mimoso fructo,
 Nos rostos varios, e animaes diversos,
 Nos sons, nas côres, na minha alma o vejo,
 Almo thesouro da Clemencia eterna."


"Newton" (José Agostinho de Macedo)



O poema deste ferrabrás de padre que foi Macedo não acontece para defender a religião da ciência. A obra magistral de Newton, ele próprio devoto, só vem provar uma harmonia que só estava no sentimento. De facto, todas as provas que vieram depois podiam ter o mesmo significado, mas não tiveram. Porque, entretanto, o prestígio, chamemos-lhe assim, pendeu para o lado iluminista. E a capacidade de acumular provas do seu próprio poder, já fez com que a Teoria da Relatividade, por exemplo, encontrasse todo um outro contexto.

O universo (e não se pode dizer: à medida que se conhece, porque "sabemos" que não podemos abandonar a antropologia) é uma espécie de metáfora do irredentismo humano.

Macedo escreveria, sem dúvida, um outro poema a Einstein, em que não seria, talvez, tão grande a diferença entre os que ilustram e os que inquietam.

"O Mundo deve aos Conquistadores desgraças, lagrimas, e lutos; o Mundo deve a Newton verdades, sciencia, e luzes. Se inquietar os homens tem merecido tantas Epopéas, porque não merecerá hum Poema quem illustra, e quem ensina os homens? " (ibidem)


0 comentários: