"Apesar dos seus receios, ele não a achou feia por
nada deste mundo."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
Assim começa também o "Barco Negro" de David
Mourão-Ferreira: "De manhã temendo que me achasses feia (...)"
Alí, é um pensamento de Clarisse que, tal como uma
pitonisa, está aberta às correntes de ar do invisível. Nesse estado, o amor de
Walter não tem nenhum privilégio. Mas ao regressar à terra, ou ao "acordar
deitada na areia" que, no poeta, poderia fazer pensar na 'tristeza post
coitum', há um momento de insegurança.
Porque se há um regresso, se há um reencontro, não
importa a duração. Pode-se voltar duma viagem à Lua, de uma "comissão no
Ultramar" ou da experiência do Nirvana, o tempo é um intruso, o tempo faz
outro triângulo amoroso, que torna tudo instável.
Por que é que Clarisse quer conservar a "graça"
se apenas seguiu o seu destino? Porque sempre haveremos de desejar o
inconciliável. Mas Walter está apaixonado.
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