"Cosmopolis" (DeLillo/Cronenberg) leva-nos ao
interior duma limusina, apetrechada como um novo Nautilus, donde as ruas de
Nova Iorque surgem a um cérebro capitalista como o fundo do mar.
O ponto de vista do aquário, ou do batiscafo,
curiosamente, já foi comparado ao do narrador proustiano que observa os seus
semelhantes como se de estranhas criaturas marinhas se tratasse.
Mas Eric Packer
(Robert Pattinson), ligado aos seus terminais e aos seus algoritmos,
está mais interessado no jogo global, em especular contra o 'yuan', a moeda
chinesa, por exemplo.
Assim, a paisagem humana que passa nas janelas da sua
limusina já nem sequer é informação pertinente. E se durante as 24 horas da
história mantém a obsessão de ir ao barbeiro ( o único movimento fora do seu
"habitat" artificial) talvez seja, por um lado, porque isso é ainda
uma ligação à vida das pessoas, e, por outro, porque o "corte de
cabelo", como espectro do especulador, está sempre presente.
Aliás, vamos assistir à sua ruína instantânea, porque o
"yuan" fintou o seu modelo matemático. Benno Levin (Paul Giamatti)
que o quer matar, explica-lhe o seu
erro: Packer devia-se ter inspirado na geometria da sua próstata assimétrica.
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