domingo, 3 de junho de 2012

UMA PRÓSTATA ASSIMÉTRICA



"Cosmopolis" (DeLillo/Cronenberg) leva-nos ao interior duma limusina, apetrechada como um novo Nautilus, donde as ruas de Nova Iorque surgem a um cérebro capitalista como o fundo do mar.

O ponto de vista do aquário, ou do batiscafo, curiosamente, já foi comparado ao do narrador proustiano que observa os seus semelhantes como se de estranhas criaturas marinhas se tratasse.

Mas Eric Packer  (Robert Pattinson), ligado aos seus terminais e aos seus algoritmos, está mais interessado no jogo global, em especular contra o 'yuan', a moeda chinesa, por exemplo.

Assim, a paisagem humana que passa nas janelas da sua limusina já nem sequer é informação pertinente. E se durante as 24 horas da história mantém a obsessão de ir ao barbeiro ( o único movimento fora do seu "habitat" artificial) talvez seja, por um lado, porque isso é ainda uma ligação à vida das pessoas, e, por outro, porque o "corte de cabelo", como espectro do especulador, está sempre presente.

Aliás, vamos assistir à sua ruína instantânea, porque o "yuan" fintou o seu modelo matemático. Benno Levin (Paul Giamatti) que o quer  matar, explica-lhe o seu erro: Packer devia-se ter inspirado na geometria da sua próstata assimétrica.

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