Stendhal (1783/1842) |
Falando da pintura do Quattrocento, diz Stendhal ("Promenades dans Rome"): "Para compreender bem a maior parte dos quadros dos grandes mestres, é preciso imaginar a atmosfera moral no meio da qual viviam (...)"
"(...) Um velho chamava-se João Francisco Luís; pediu a Correggio para lhe fazer um quadro representando a Madona com o Salvador nos seus braços, ele queria em volta do trono de Maria S. João Batista, S. Francisco, que viveu tanto tempo depois dele, e S. Luís, rei de França. Que podiam dizer uns aos outros estes personagens que, na vida real, estiveram separados por tantos séculos?"
Como se o facto de transportar esses personagens para a tela, contemporâneos ou não, já não fosse em si uma liberdade da arte!
A perspectiva, por outro lado, torna verosímil o anacronismo, colocando os santos, com os seus atributos especiais, num mesmo espaço.
As figuras não comunicam entre si, mas cada uma, no seu nicho virtual, assegura ao autor da encomenda a sua intercessão na hora da morte.
"Seguindo em todos os seus detalhes os costumes e as crenças dos séculos XIII e XIV, ver-se-ia o porquê de várias coisas ridículas que se observam nos quadros dos grandes mestres.
A religião cristã permitiu então todas as paixões, todas as vinganças, e só exigia uma coisa: que se cresse nela." (ibidem)
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