terça-feira, 27 de maio de 2014

CLARIVIDÊNCIA

Nietzsche (Edvard Munch)

 

Dizia Nietzsche que "já não amamos suficientemente a nossa clarividência quando a comunicamos." A clarividência, então, só é útil para o mundo se tiver dois tempos: num primeiro tempo, é a dos caminhos solitários de Sils Maria, a dos cumes inóspitos, a do silêncio, enfim, longe do zumbido da colmeia humana. No segundo tempo, tal como no mito platónico, o cavernícola que cegou perante o sol da evidência deve regressar ao mundo das sombras para levar a 'boa nova' aos companheiros da caverna.

Ora, só sentirá essa necessidade de abandonar a 'verdade', de a trocar pelo dever de a comunicar, o filósofo, tal como o via o 'homem dos ombros largos'. Não o amor pelo outro, quando esse amor é que é a verdade, segundo o Evangelho.

Mas não oferece dúvida o facto de se perder algo de essencial na comunicação, no fundo, na conversão em história ou mito da clarividência do sujeito. E é outro belo mito pensar que o indivíduo é alguma coisa por si só.

A clarividência talvez nem esteja ao alcance dos humanos...



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