"Nas discussões, em geral não se dirigia aos seus oponentes, dirigia-se às testemunhas da discussão. O seu objectivo era, perante as testemunhas da discussão, ridicularizar, desacreditar o seu adversário."
(Vasily Grossman)
Grossman foi um jornalista soviético e um dos primeiros repórteres dos campos nazis. Judeu, a sua fé revolucionária não resistiu ao anti-semitismo de Estaline. Nesta passagem é revisitada a maior figura da Revolução: Vladimir Illich Lenine.
Ocorre-me pensar que o actual modelo de debate na televisão não permitiria uma táctica tão básica para ganhar uma discussão. Mas há outras, igualmente 'primárias', como a usada pelo candidato Passos Coelho no seu (não sei se) único confronto televisivo com o ex-primeiro-ministro. Abusou dos juízos 'ad hominem' para desacreditar o adversário, do género de dizer que conhecia todos os seus truques.
Mas por que não havemos de acreditar que Lenine, dado o seu pouco respeito pela democracia, não estava a tratar os seus oponentes como, segundo o próprio, eles 'mereciam'?
A igualdade é absolutamente necessária para haver uma discussão livre, e os argumentos de cada parte devem valer por si, sem dependerem do apoio de qualquer 'claque'. Mas no ambiente político da 'luta de classes' tudo é permitido, até as 'claques'.
Aqui, gostaria de chamar a atenção para o óbvio: os debates na televisão podem não recorrer às 'claques', mas estão longe de ter um carácter democrático (ou o mesmo tempo concedido a cada um seria a única medida da igualdade e a única condição para a 'inteligibilidade'). São em primeiro lugar espectáculo. Mas, é verdade, um espectáculo que muitas vezes funciona como legitimação da política.
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